Saúde mental como fator de prevenção de doenças do corpo

Entenda como emoções e condições psíquicas podem fragilizar o corpo, principalmente durante a velhice, e de quais maneiras fortalecer a saúde mental para garantir mais equilíbrio e qualidade de vida.

Dra. Ana Luiza Figueirôa

8/1/20253 min read

Você já reparou como nosso corpo parece “sentir” quando a mente não vai bem? É como se tudo ficasse mais difícil: o sono, o apetite, a disposição… Essa relação não é coincidência e, após os 60 anos, ela se torna ainda mais delicada.

Neste artigo, quero compartilhar com você algo que vejo com frequência no consultório: o impacto silencioso que a saúde emocional tem sobre o corpo de quem está envelhecendo.

O CORPO SENTE O QUE A MENTE CARREGA

Na prática médica, é comum perceber que quadros de tristeza, estresse ou solidão prolongados vão muito além do sofrimento emocional. Eles abrem espaço para inflamações, pioram o controle de doenças como hipertensão e diabetes, aumentam a pressão arterial, alteram o apetite e reduzem a imunidade.

EM OUTRAS PALAVRAS: QUANDO A MENTE ADOECE, O CORPO TAMBÉM SE FRAGILIZA.

O estresse crônico, por exemplo, eleva os níveis de cortisol (o hormônio do estresse) e com isso, o organismo se torna mais vulnerável a infecções, inflamações e descompensações clínicas. Em idosos, esse processo pode ser ainda mais perigoso, pois o corpo já lida com mudanças naturais do envelhecimento.

DEPRESSÃO E ANSIEDADE: MAIS DO QUE UM ESTADO DE ESPÍRITO

É importante entender que depressão e ansiedade não são apenas “tristezas profundas” ou “preocupações exageradas”. Essas condições afetam diretamente o comportamento, a alimentação, o sono e o cuidado com a própria saúde.

Quando um idoso apresenta sintomas depressivos, é comum observar que ele deixa de se alimentar bem, abandona as atividades que gostava de realizar, esquece ou recusa os medicamentos, altera o padrão de sono e perde o interesse pelas interações sociais.

Esse conjunto de fatores compromete o controle de doenças pré-existentes e favorece o surgimento de novas complicações. É por isso que cuidar da saúde mental é, também, cuidar da saúde física.

A SOLIDÃO PODE PESAR MAIS QUE UM CIGARRO

Poucos sabem, mas o isolamento social tem efeitos tão nocivos quanto fatores de risco tradicionais, como o tabagismo ou a obesidade. Isso porque a ausência de vínculos enfraquece não só o emocional, mas também o sistema imunológico e cardiovascular.

E quando falamos de solidão, não estamos nos referindo apenas à falta de pessoas ao redor, mas à ausência de relações significativas, de escuta, de troca verdadeira. Por isso, incentivar a participação social é um gesto poderoso de cuidado.

O QUE PODE SER FEITO NA PRÁTICA?

Felizmente, existem formas acessíveis de fortalecer a saúde mental, mesmo diante dos desafios associados ao envelhecimento, e muitas delas também promovem saúde física:

  • Atividades físicas regulares: são aliadas potentes para melhorar o humor, preservar as funções cognitivas e prevenir o declínio físico.

  • Participação social: integrar grupos, fazer parte de atividades comunitárias ou ações voluntárias traz senso de pertencimento e reduz sentimentos de vazio.

  • Trabalhar habilidades emocionais: promover a gratidão, o perdão e a resiliência ajuda o idoso a enfrentar desafios com mais leveza e propósito.

Além disso, é fundamental combater o estigma sobre saúde mental. Buscar ajuda especializada não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria.

O OLHAR DO GERIATRA: MAIS DO QUE SINTOMAS

O acompanhamento geriátrico é uma peça-chave nesse processo. Ao olhar o paciente de forma integral, considerando corpo, mente e contexto social, conseguimos identificar sinais precoces de sofrimento psíquico e agir antes que o quadro se agrave.

Nem sempre é necessário prescrever medicamentos. Muitas vezes, intervenções simples como orientações sobre estilo de vida, escuta qualificada ou encaminhamento para suporte emocional já fazem grande diferença.

Nos casos em que há necessidade, o trabalho em equipe com psiquiatras, psicólogos e outros profissionais permite um cuidado mais abrangente e humano.

CUIDAR DA MENTE É CUIDAR DA VIDA

A saúde mental não é um detalhe: é parte central do envelhecimento bem-sucedido. Ela protege, fortalece e transforma.

Se há algo que aprendi ao longo da minha trajetória é que envelhecer com saúde não depende apenas do que comemos ou do quanto nos exercitamos. Depende, sobretudo, de como nos sentimos, como lidamos com a vida e com as mudanças que ela traz.

Por isso, minha recomendação é clara: cuide da mente com o mesmo carinho com que cuida do corpo. Essa escolha pode mudar o rumo do seu envelhecimento para melhor.

Ana Luiza Figueirôa - Geriatra e Paliativista

CRM PB 15189 | RQE 8922